sexta-feira, 25 de abril de 2014

A Santa Face de Nosso Senhor

"O meu amor sempre descobre encantos
Desta face que os prantos embelezam.
Eu sorrio em meio as minhas lágrimas,
Cada vez que contemplo Tuas dores..."

(Santa Teresinha do Menino Jesus, poesia; "Meu céu na Terra")


segunda-feira, 21 de abril de 2014

As conversas

Transporto-me em espírito para a casa de Izabel, ao tempo em que Maria a visitou. Que lições de modéstia, de humildade, de discrição, de caridade poderei aprender aí! 
Izabel reconhecendo Maria como a Mãe de Deus, cobre-a de louvores e bênçãos, exalta as suas grandezas, felicita-a pelas suas prerrogativas. Longe, porém, de se deixar enlevar pela sua dignidade, para Deus deriva o incenso dos louvores, mais uma ocasião aproveitando para louvar o Senhor. Ela não desconhece o Todo-Poderoso, mas só a Ele refere a glória de tudo; e se Mãe de Deus sabe que é, também não esquece que é sua serva. 
Humildade sincera é essa que nada tem de falsa modéstia, atrás da qual se oculta refinado orgulho. 
Na verdade, quantas criaturas que só os louvores rejeita para mais louvores atrair sobre si, pondo assim a modéstia ao serviço da própria vaidade! 
Nas cogitações de Maria e Isabel não há lugar senão para Deus, as suas grandezas e misericórdias.
Cheias do Amor divino, só se deliciam ambas em falar das maravilhas de Deus, da sabedoria de Deus, da Bondade de Deus! 
Quando os dons de Deus são o  objeto único de nossa alegria, então Deus se faz o único objeto de nossos agradecimentos e louvores. 
"A boca fala da abundância do coração" (Mat. 12,34). Quem só do mundo se preocupa, bem mostra não amar senão o mundo e ter o coração cheio dos falsos encantos do mundo. "Eles são do mundo" , dizia o amado discípulo de Jesus, "por isso é que falam do mundo e o mundo os escuta" (Jo.4,5). Se se fosse de Deus" (1,Jo.4,6), de Deus se falaria ou ao menos nada se falaria que não fosse conforme as máximas de Deus.
Lembra- te que a Deus terás de prestar contas no dia do Juízo até de uma palavra ociosa. Que justo motivo de temor para ti! 
Oh!, como são poucas, mesmo entre pessoas piedosas, as conversas que não venham onerar a conta que hão de prestar as almas perante o Supremo Juiz! Frequentemente é de frivolidades, rumores populares, bagatelas que os homens tratam nas suas conversas, sendo estes casos os mais inocentes. Com efeito, parece que já não é para muita gente possível conversar sem tagarelar dos defeitos do próximo, como se a falta de crítica maligna enfraquecesse a conversa dos homens. 
Ai! das línguas maldizentes que, sempre ágeis como as das serpentes, se deliciam no retalhar a reputação dos ausentes!  Ai daqueles igualmente que se comprazem em os ouvir!  O que dá ouvidos a maledicência, desta se torna cúmplice. 
Faze um propósito na tua consciência, alma de Jesus Cristo,  no sentido de nunca falares mal de ninguém. 
Se aos outros não puderes impedir a maledicência, dá- lhes a conhecer, ao menos com teu silêncio, que em nada participas dos seus propósitos maldizentes. Abomina quaisquer palestras contrárias a honestidade.
Não rias a certa linguagem com que o mundo ama se divertir, sob o pretexto de "desopilar", pois que em via de regra não é mais que a linguagem da paixão. Considera sobretudo uma glória passares como um homem, diante do qual ninguém ousaria atacar a piedade e a religião. 
Repele ao ímpio com santa liberdade,  e se outro meio não tiveres para que se lhe fechem os lábios, ao menos dá testemunho, por qualquer sinal inequívoco, do que pensas sobre impiedade. 
Sê verdadeiro nos teus relatos, modesto e reservado nas tuas palavras, de resto afável para com todos, prestando- te a uma alegria inocente. Não só a virtude te o  permite, como mesmo o exige te ti algumas vezes. 
Quanto mais propenso fores a pecar pela língua maior da-de ser a tua precaução, afim de evitares as faltas que têm a língua por princípio. Se amas palestrar a sós com Deus,em tua casa, menores serão os perigos a que te arriscarás quando entre os homens apareceres. 
Antes de entrares em um meio qualquer,pede ao Senhor que "ponha vigilância nos teus lábios" (Ps. 140,3), e durante a tua palestra pensa que Deus está presente e te escuta. Fala- lhe de tempos em tempos, interiormente, por alguns afetos saídos do teu coração. 
Quando terminar a palestra, toma nota do que constituiu a matéria dela, para que agradeças a Deus se te portaste como devias, ou para que Deus te corrija das faltas porventura cometidas. Assim, terás adquirido, alma cristã,  a discrição e o sábio governo das tuas palavras, tal como te recomendam os mestres da vida espiritual, os quais com justa razão costumam ver na sábia medida da nossa língua um ponto de grande perfeição.

(Imitação de Maria, por um religioso anônimo, 1938, Livro I, cap XXVI.)